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Dez anos após participação no Caldeirão do Huck, ex-atleta do TNL, Rafael Rodrigues, conta como o projeto e a participação no programa impactaram sua vida

O objetivo de projetos sociais, independentemente da área de atuação, é impactar positivamente a vida dos participantes. As transformações, no entanto, acabam indo muito além do ambiente em que eles ocorrem. Prova disso foi a participação de Rafael Rodrigues, ex-atleta do Tênis na Lagoa, no programa do Caldeirão do Huck em 2010. Além de conhecer e jogar com o maior ídolo do tênis brasileiro, Gustavo Kuerten, o jovem teve sua história mostrada em rede nacional, emocionando lares em todo o país.

Foto: Rafael Rodrigues, Gustavo Kuerten e Luciano Huck, em participação no Caldeirão do Huck.

Rafael, então com 15 anos, foi surpreendido pela visita de Luciano Huck em sua casa, na comunidade carioca da Rocinha, onde vivia com a família. Após ouvir a história do jovem, sua relação com o tênis e a participação no TNL, Luciano foi à Florianópolis, capital de Santa Catarina, tentar convencer Guga à realizar o sonho de Rafael: jogar com o ídolo. O plano deu mais que certo e só foi possível graças à Alexandre Borges, fundador do Tênis na Lagoa, que enviou uma carta ao programa conhecido nacionalmente para fazer o pedido.

Pouco tempo depois, o tricampeão de Roland Garros já estava no Rio de Janeiro prestes a surpreender Rafael. Além do encontro nas quadras, Guga convidou o jovem para ser orientado por Larri Passos, seu treinador, em Santa Catarina. Rafael ainda teve a chance de participar do quadro “Agora ou Nunca”, do Caldeirão. No fim, conquistou uma premiação em dinheiro, que foi utilizada, em parte, para financiar a participação do jovem em campeonatos de tênis.

Até os dias atuais, os passos de Rafael continuam a refletir sua passagem pelo Projeto. A paixão pelo esporte levou aos estudos na área de Educação Física, em que é formado. Atualmente, o jovem de 25 anos trabalha como personal trainer, além de atuar como professor de tênis. Os vínculos com a vida pessoal, no entanto, foram além. Rafael se casou com uma ex-aluna do Tênis na Lagoa, tiveram um filho juntos e hoje, formam uma família que surgiu por meio da força do esporte.

Confira agora partes da entrevista que tivemos com ele:

Há 10 anos, você participou do Caldeirão do Huck, no quadro do “Agora ou Nunca”, como foi a experiência?

Eu não esperava. Serviu pra me mostrar que tudo é possível. Eu sabia que podia chegar em algum lugar, mas me via com limitações. Foi uma experiência ímpar, principalmente por conhecer o Guga, que é um cara que brilha demais. Uma coisa que me deixou marcado, que ele disse, foi que eu não precisaria necessariamente ser um atleta profissional, mas a experiência que eu estava vivendo no Projeto já me ajudaria a trabalhar com o esporte, talvez como preparador físico, professor de tênis…trabalhar em outras áreas do esporte, mas com a mesma garra e determinação. Foi algo que me estimulou a seguir em frente. Aproveitei o dinheiro do prêmio do programa pra comprar algumas coisas (tênis, raquete), viajei com o Alexandre pra disputar o Circuito Rota do Sol, o primeiro brasileiro que disputei. Lembro que quando voltei eu cheguei como número um da Federação do Rio de Janeiro, porque ele dava muitos pontos no ranking.

Foto: Rafael e amigos durante o torneio Rio Open.

Durante o programa você também foi convidado para ter uma semana de treinos com o Larri Passos, treinador do Guga e de tantos outros tenistas brasileiros. Como foi?

Aquele momento serviu para eu realmente abrir a minha mente. Tive a oportunidade de ver de perto profissionais bem-sucedidos, felizes, trabalhando em outras áreas, como a preparação física e treinadores. Percebi que era aquilo que eu queria para minha vida. Em uma semana eu fiquei destruído, era algo completamente diferente do que eu conhecia e estava acostumado no Projeto. Uma estrutura gigante, parte física, técnica… Na época o Larri estava com alguns atletas como o Thomaz Belluci, o Thiago Monteiro, Thiago Fernandes, Bia Haddad, além de outros tenistas muito bons.  Quando voltei, com 16 ou 17 anos percebi que tinha que focar no que eu queria fazer. Então comecei a estudar e focar para conseguir entrar na faculdade.

Você seguiu na área de Educação Física. Acha que teria tido um caminho diferente caso não tivesse entrado no TNL? Qual seria?

Acho que independente do tênis eu teria seguido um caminho com foco, por conta da família, que sempre foi muito próxima. Minha mãe sempre foi muito rígida e isso foi muito importante na minha formação. Ela dizia que se você não faz seu filho chorar quando novo,  você vai chorar por ele mais tarde. O problema é que quando chega na adolescência você não sabe o que fazer, são muitas opções. E o tênis foi importante por isso, abriu um caminho para mim. Eu trabalhava como boleiro em um clube na Lagoa, era uma coisa que eu gostava. Eu via os professores ganharem uma hora/aula com valores bons. Um amigo sugeriu que eu conhecesse o TNL e acabei entrando. Lembro do meu primeiro torneio, com o Alexandre e a Paula. O tênis trouxe alguns diferenciais, como a questão da honestidade, de correr atrás dos seus objetivos…porque os torneios eram longe e a gente precisava correr atrás pra participar. Me ajudou a amadurecer muito.

Falando um pouco mais sobre isso, quais valores você acredita que são passados durante a prática do tênis?

O tênis é um esporte excelente, um dos melhores porque ensina valores que outros esportes não ensinam. Como a questão da honestidade, que o adversário é que faz a marcação da bola, por exemplo. A cumplicidade, respeito ao adversário, ter que ir cumprimentar no fim das partidas independentemente do resultado, por exemplo.

Você participou durante muito tempo do TNL, poderia contar um pouco mais da experiência?

Foto: Rafael e a esposa Gisely se conheceram no Projeto TNL.

Eu entrei no Projeto já com 14/15 anos. Quando participei do Caldeirão eu estava lá há uns 6 meses só. Mas em todas as reportagens eles me colocavam para falar, acho que eu levava jeito, e isso me ajudou a crescer. Ele me ajudou muito também a dar continuidade no esporte que eu tanto amo. Me deu a oportunidade de seguir um caminho que me trouxe até aqui e que me faz muito feliz. Além disso, eu conheci a minha esposa no Projeto, ela também participava, então acabou contribuindo tanto na vida profissional como na pessoal. Por questões de estudo e trabalho não tenho conseguido manter tanto contato com o pessoal de lá como antes, mas ainda mantenho contato com o Alexandre.

O que você diria para as crianças do projeto hoje?

Acreditem no sonho de vocês. Talvez lá na frente não seja possível realizar esse sonho, mas certamente o Projeto vai dar a oportunidade de vocês sonharem com outras coisas, que hoje talvez vocês nem imaginem. Tentem perceber o caminho de vocês e tenham foco, corram atrás. Eu sonhava ser atleta, depois quis ser professor de tênis e hoje faço outras coisas, mas que também me deixam super satisfeito e feliz. Hoje, quando olho pra trás vejo que não podia ter escolhido caminho melhor.

 

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Laryssa Bach

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